
Excerto do livro:
«As gémeas subiram um pouco à toa, sempre receando que aparecesse alguém. Nenhum esconderijo lhes parecia suficientemente amplo para as duas e, como tinham resolvido ficar juntas, andaram de um lado para o outro até que foram dar ao quarto da rainha Dona Amélia, que era o maior de uma longa série de aposentos destinados às damas da corte.
A cama, bastante larga, oferecia o que pretendiam porque estava coberta por uma linda colcha de seda chinesa e tinha ainda um folho grosso de pano grená até ao chão.
— Debaixo da cama ninguém nos vê!
Teresa levantou o folho de pano grená e espreitou. O rectângulo escuro e protegido por todos os lados pareceu-lhes magnífico. Podiam estender-se ao comprido, descansar e ir controlando o que se passava cá fora sem ninguém sonhar que estavam ali.
— Lembra-te de quando éramos pequenas e nos escondíamos debaixo da cama da mãe?
— É verdade! Às vezes fingíamos que era uma gruta na montanha.
— E nós duas ursas com imensos filhos de peluche!
— Meu Deus, já foi há tanto tempo!
Divertidas com as recordações da infância quase esqueceram o que estavam ali a fazer.
— Este quarto dava lindamente para brincar às princesas! Parece tudo arranjado para receber alguém, já reparaste? Olha aqui o pequeno-almoço num tabuleiro.
Teresa aproximou-se de uma mesinha redonda onde os empregados tinham colocado um bule, uma chávena, e até pratos com queijadas de Sintra e bombons. O pequeno-almoço da rainha.
— É engraçado esta maneira moderna de organizar os museus. Em vez de porem as coisas em vitrinas, com o ar distante de quem está ali só para ser admirado, colocam tudo no lugar certo, como se ainda estivesse a uso.
— Pois é. Fica bonito. Mas o que eu gostava de saber é se os doces são falsos ou verdadeiros.
— Isso só provando...
— Não era má ideia. Estou com tanta fome!
— Achas que se comermos as queijadas é roubar?
— Hum, não. Amanhã podemos comprar doces iguais e entregá-los na portaria.
Luísa, com água a crescer na boca, não resistiu e trincou dois bombons ao mesmo tempo.
— Ai...
— O que foi?
— São de gesso! — disse ela, cuspindo para a palma da mão. — Bâ! Que porcaria. E agora? O que é que eu faço a isto?»
(in Uma Aventura no Palácio da Pena, pp. 70-71)
João
Um comentário:
Ainda li alguns livros desta colecção...;)
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